Sem tempo, irmão
• A expansão desenfreada da Uber deu lugar à atenção a demandas específicas
• Sustentabilidade, restrições alimentares e transporte público são novas bandeiras
• Novos recursos ainda tardam a chegar a todas as regiões, mas proposta é acelerar processo
• Em entrevista exclusiva, Manik Gupta, VP de produto, conta como a Uber vai fazer tudo isso
No início de agosto, a Uber deu uma notícia ruim: teve prejuízo de US$ 5,2 bilhões no segundo trimestre de 2019, um recorde que superou expectativas de perda, que já eram grandes. Uma leva de demissões veio pouco mais de um mês depois, para que a empresa "recuperasse sua vantagem e se esforçasse continuamente para fazer melhor", segundo comunicou o executivo-chefe Dara Khosrowshahi a seus funcionários.
Como uma empresa de capital aberto, as decisões da Uber impactam agora o bolso de pessoas comuns que investiram na companhia, mas não é isso que irá fazer com que ela pare de arriscar e tente ampliar seu impacto. Isso foi mostrado em evento na última quinta-feira (26), que trouxe uma série de novidades para as plataformas de motoristas e passageiros, com direito a um novo app unificador de funções.
Os riscos de agora, no entanto, se diferenciam daqueles de anos anteriores, quando a Uber iniciava operações à força mesmo em cidades que se opunham ao modelo de negócios da empresa. Manik Gupta, vice-presidente de produto da Uber, conversou com exclusividade com Tilt para explicar essa abordagem mais responsável, com foco em sustentabilidade e produtos mais refinados para usuários bem específicos.
Investidores podem ficar incomodados, mas, para Gupta, a preocupação não está nos resultados do terceiro trimestre de 2019. "É uma jogada de longo prazo", diz o executivo, que destaca que a sustentabilidade tem um papel importante para a existência da humanidade e, consequentemente, da própria empresa.
"Nós não teremos como viver em nossas cidades em 20 anos se não corrigirmos problemas que temos. Então não só importante para nossos consumidores, mas é importante para nós como negócio. Esses objetivos se interseccionam e estão alinhados", explicou Gupta.
É para isso que a Uber prepara um relatório que contará com uma medição da eficiência energética de sua plataforma, que terá como pilares a eficiência das viagens, calculada a partir dos quilômetros rodados por passageiros e veículos, e a intensidade de carbono, com a estimativa de emissão de gás estufa por quilômetro de passageiro. Esses dados serão divulgados regularmente e a empresa trabalhará para diminuir o consumo de combustível.
Segurança e eficiência
As iniciativas de carros autônomos e "voadores" também levam isso em consideração, visto que ambos serão veículos elétricos. Eles apresentam evoluções e inovações nos serviços da Uber, mas a automação de veículos é o tipo de novidade que preocupa os motoristas do aplicativo, que serão potencialmente cortados da equação de receita do serviço, uma vez que a tecnologia estiver madura.
Enquanto a era dos carros inteligentes não chega, a #Uber trouxe novos recursos que devem melhorar o trabalho de motoristas, como um algoritmo que prevê onde novas corridas deverão ser pedidas, otimizando o deslocamento sem passageiro, e uma programação regional de eventos, para encaminhar motoristas a estádios que receberão jogos ou shows.
Eles também devem se beneficiar com uma das novas ferramentas de segurança, que exige uma confirmação por senha do passageiro na hora da entrada do carro. Esta foi uma das três funções apresentadas para dar mais confiabilidade o serviço. Além dela, um novo "check-in" de motoristas por reconhecimento facial, que exigirá a rotação do rosto e não apenas uma imagem frontal (mais vulnerável), e um chat por SMS com forças policiais para emergências foram apresentados. Porém, nada disso chegará ao Brasil em um primeiro momento.
"Nosso objetivo é entregar todas essas mudanças globalmente. Mas isso leva um tempo, porque às vezes há questões regulatórias, funções que não funcionam muito bem por conta de celulares e condições de rede diferentes", justificou Gupta. O #executivo ainda afirmou que implementar as novidades mais rápido, em escala global, é uma prioridade de sua equipe neste ano e no próximo.
O Brasil, país onde segurança pública é um problema maior do que nos #EstadosUnidos, receberá uma novidade para tornar suas ruas mais seguras: um alerta para a presença de ciclistas no desembarque em áreas com ciclovias. O recurso não é revolucionário, mas encaixa no perfil "responsável" e "do bem" que combina com o tom que a Uber buscou no evento em San Francisco.
Melhora da imagem e da relação com usuário
Seguindo nessa linha, a Uber expandiu funções bem específicas em seus aplicativos, focadas em agradar necessidades ou gostos de certos nichos de usuários. Uma delas foi levar para o mundo todo um recurso do #UberEats que foi testado no #Brasil: a dispensa, por parte do usuário, de utensílios descartáveis como talheres, guardanapos ou canudos.
Um "filtro" semelhante ajudará a usuários alérgicos a certos tipos de comida que buscam encomendar suas próximas refeições. "Como chefe de produtos, minha responsabilidade é que criemos produtos que ressoem com nossos usuários e muitos deles acreditam nessas coisas, assim como nós. Por que não construímos recursos sobre essas questões? Pega o exemplo dos alergênicos: estamos em uma escala em que podemos providenciar uma opção e integrar isso até o final é difícil, mas nós queremos fazê-lo porque isso providencia novas opções de escolha para que o usuário não peça uma comida que o faça passar mal", contou Gupta.
Esta é uma lógica parecida da que está por trás do Transit, a integração de informações de transporte público entre as opções mostradas pelo app da Uber. No longo prazo, a empresa pode até ganhar uma comissão por vendas de passagem pelo aplicativo, mas isso ocorre apenas em Denver, por enquanto.
Em um primeiro momento, a ideia é tornar o app um "melhor amigo" de quem quer se deslocar por zonas urbanas, atraindo olhares que outrora iriam para o Google Maps ou outros serviços do tipo. "Se você providencia ao usuário a informação e escolha certas na hora certa, eles vão nos usar mais quando precisarem", aposta o executivo.
A impressão que fica é que a empresa segue buscando distância das práticas agressivas do antigo #CEO Travis Kalanick, fundador e responsável pela rápida expansão global da marca, repleta de controvérsias que iam desde espionagem de concorrentes a uma cultura interna tóxica. Com dezenas de milhões de usuários mensais e concorrentes fortes mundo afora, como a chinesa DiDi Chuxing (dona da 99), a indiana Ola e a americana Lyft, ela tenta solidificar sua posição nos países em que atua. Para a equipe de Gupta, o jeito de alcançar esse objetivo é se concentrar em resolver justamente essas demandas específicas de seus usuários, a fim de fidelizá-los.
Resolvendo um problema por vez e se blindando do imediatismo do mercado financeiro, agora que a Uber é uma empresa de capital aberto, o vice-presidente de produto afirma: "vamos vencer".
Fonte: UOL
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